HISTÓRIA DA FAMÍLIA

Verbicaro, talvez um nome comum na Itália. Verbicário, no Brasil, sinônimo de família, de trabalho contínuo e honesto, de honradez e de harmonia. Nome que já é um galhardão para quem quer que o ostente, ao mesmo tempo título de grandeza e exigência de nunca conspurcar a memória daquelas duas figuras legendárias, fundadoras da família em terras brasileiras, em terras fluminenses: MARIETA e ANTÔNIO VERBICARO.

Maria (Mariete) Melegário, filha de Jácomo Melegário e de Rosa Melegário, nasceu em Verona, Itália, em 29 de maio de 1881. Tinha três irmãos: Batista, Natal e Sílvia. Ficou órfã de mãe, que morreu de parto. Foi estudar em Veneza, em casa de uma tia, que custeava seus estudos e tinha a intenção de livra-la da madrasta. Sua irmã Sílvia contava que, depois da morte da mãe, enquanto embalava seu irmão Natal, sua mãe apareceu e lhe disse: Seu pai está viajando e pensando em casar-se novamente. Diga a ele que ainda é muito cedo para vocês começarem a sofrer. Nessa ocasião, Sílvia ainda perguntou à visão: Mãe qual é a verdadeira religião? E ela lhe respondeu: Faça o bem e receberá o bem.

MARIETA veio para o Brasil, com toda a família, aos 15 anos de idade. Essa viagem teve um trágico motivo. A família ficou sem recursos depois que sua casa e o armazém da família se incendiaram por descuido de um dos irmãos.

O comandante do navio em que viajaram, chamado Antônio, se apaixonou por MARIETA e, durante algum tempo, escreveu-lhe cartas. Batista irmão da mocinha, as rasgava todas, porém, alegando que um comandante de navio não iria casar-se com uma jovem pobre.

A família ficou na Ilha das Flores, pousada oficial dos imigrantes na época, até o fazendeiro Tude Portugal mandar apanha-la e aloja-la em sua fazenda, em Santa Maria Madalena.

Com 17 anos de idade, MARIETA casou-se com ANTÔNIO VERBICARO, que lhe deu todo o enxoval, inclusive até o pó-de-arroz! Escapou, assim, de um estranho episódio: uma patrícia sua, a Luminata, diz rapta-la, para casa-la com outro patrício! O relacionamento do novo casal, segundo se conta, começou em uma casa comercial (depois transformado no armazém do sr. Aristeu), onde ANTÔNIO viu, pela primeira, uma jovem muita bonita e simpática: MARIETA. Tomado de um súbito e intenso sentimento, ANTÔNIO foi à casa dos pais da italianinha, para pedi-la em casamento. Embora inicialmente contrariada, por não conhecer bem o pretendente, Marieta se submeteu à vontade do pai, conforme os costumes da época, aceitando o casamento. Houve uma festança, com fartura de comes e bebes, lançamento de foguetes, e a atuação brilhante da banda de música Sete de Setembro.

O amor veio depois do casamento, chegando MARIETA a se referir sempre a ANTÔNIO como o meu santo marido. E foi, sem dúvida, o casal mais perfeito e mais feliz da pequena cidade, ainda em formação – Santa Maria Madalena. Tiveram nove filhos, sendo três meninos e seis meninas. Crescendo com o exemplo de retidão e devotamento ao trabalho dados por seus pais, juntos cresceram, se multiplicaram, ocupando hoje importante espaço em nossa sociedade. Todos esses filhos tiveram seus sobrenomes aportuguesados para VERBICÁRIO, ao serem registrados, passando a ser esse, portanto, o nome da família.

Além dos nove filhos, ainda criou uma sobrinha, que apanhou com dois anos de idade, a Maria Luiza Melegário Milani (Bieta), filha de sua irmã Sílvia. Com o marido, Horácio Gomes dos Santos. Este casal teve dez filhos: Geny, Maria Rosina, Alaíde, Aristeu, José, Madalena, Terezinha, Cid Sebastião, Ivonilde e Paulo.

Também quase fazia parte da família, a velha negra parteira tia Ana (Tiana), que acompanhou de perto toda essa felicidade e que ajudava D. Marieta a fazer uma fezinha no bicho, no armazém do sr. Aristeu, procurando palpites até no formato das nuvens…

MARIETA não era simplesmente uma dona-de-casa. Escrevia e lia muito bem o italiano e o português e era muito solicitada para redigir cartas para seus patrícios que aqui moravam e tinha familiares na Itália. às 18 horas, ao cantar das cigarras, retirava-se para seu oratório, onde rezava pela saúde e o sucesso dos Verbicários.
ANTÔNIO VERBICARO, filho de Vicente Verbicaro e Domingas PenelaVerbicaro e irmão de Francisca Verbicaro, nasceu em LainoBorgo, província de Cosenza, na Calábria, em 12 de setembro de 1865. Não estudou, porque na região não havia escola. Pastoreava ovelhas e sua família tinha bastante recursos. O pai ficou viúvo e casou novamente. Desse segundo enlace, nasceram outros filhos.

Resolveu emigrar para o Brasil, entusiasmado com o que lhe contava, por carta, a respeito do país, o seu primo Teodoro, que já aqui estava há 2 anos. Viajou com o primo José e o irmão deste, de nome não identificado, mas ao passar pela Argentina, ficou de quarentena por causa de uma epidemia que grassava no Brasil. Quando aqui chegou, em 1890, com 24 anos, o país ainda comemorava a Proclamação da República.

ANTÔNIO foi trabalhar em uma estrada de ferro, em Funil, quebrando pedras para a construção de túneis. Contraiu, então, impaludismo, que lhe deixou o sofrimento de intensa crise de enxaqueca pelo resto da vida. Decidiu então, mudar-se para o Estado do Rio, onde passou a labutar em São Sebastião do Alto, indo depois para Santa Maria Madalena, levado pelo coronel Lobo Albuquerque, contratado para fazer o desaterro para a construção da Igreja de Santa Maria Madalena, onde na época só havia uma capela. Fez em seguida o desaterro para a construção da casa do sr.Lopinho (casa que também foi do sr.Astolpho Erves de Castro). E mais aterros e desaterros foi fazendo…

Em determinada ocasião, recebeu de sua irmã Francisca, da Itália, uma caixa, contendo jóias valiosas, como recompensa por parte da herança que deixara em sua terra natal.

Associou-se aos patrícios Pedro Conde, Ângelo Marinho, Natal, Miguel Nicolau e Theodoro Rímolo, trabalhando na extensão da estrada de ferro, então pertencente a uma sociedade dos fazendeiros do município, mais tarde vendida ao Estado e depois à Leopoldina Railway.

ANTÔNIO, Teodoro Rímolo e Nicolau constituíram uma espécie de sociedade, para fornecer lenha e dormentes para a estrada de ferro. ANTÔNIO e Teodoro moravam perto da estação e Nicolau na casa comercial, que depois passou a ser de Antônio Correia.

Ao sr. Augusto Feijó, que trabalhou muito para eles, nas matas do Alto do Tamborim, cortando lenha a 1.000 réis por metro e serrando dormentes a 8.000 réis a dúzia, o sr. Nicolau fazia o pagamento na sua casa comercial.

O estabelecimento, que pertencia aos três, era administrado por Nicolau, talvez porque apenas este sabia ler. Tinham uma carroça e uma besta preta, chamada Crioula (daí o apelido Antônio Carroceiro). Levantava diariamente às 2 horas da madrugada, para cortar capim no morro da estação e alimentar o animal. Um dia, até uma cobra veio junto com o capim. Dormia ao escurecer. Com a carroça, transportava toda a carga da estação de trem para o comércio local e vice-versa, por cem réis cada volume. Bem mais tarde, os sócios compraram um carro de boi para fazer esse transporte, aposentando então a besta Crioula.

ANTÔNIO VERBICARO era um homem de excepcionais virtudes. Não fumava, não bebia, não jogava, nem dizia palavrões. Vivia a elogiar as virtudes culinárias de sua adorada MARIETA, embora fosse parco ao comer. Toda a manhã fazia o café e ia levar a sua esposa, na cama. Seu grande orgulho era os filhos, que cresciam tão honestos e virtuosos como seus pais, tendo um deles, Manoel Verbicário, se formado em medicina. Adorava seu cavalo Paraná, deliciando-se com os elogios que faziam a essa montaria. Não sabia ler nem escrever, mandando os filhos fazerem os cálculos necessários aos seus negócios. Sabia, porém, por experiência, quando erravam e, educadamente, solicitava que refizessem as contas. Nunca participou de movimentos políticos mas também nunca se recusava a colaborar nos movimentos comunitários.

Theodoro casou-se com Maria Luiza dos Santos Rímolo, tendo o casal os filhos José, Carmélia (Milinha) e Madalena (Lenazinha) esta última mãe de Terezinha e Teodorico Glauco Rímolo de Aquina.

ANTÔNIO e Theodoro, já então compadres residiam com suas famílias na chácara dos órfãos e, aos poucos, graças ao seu honesto trabalho diuturno, foi amealhada fortuna. Compraram a chácara do sr. Serra, fazendas e mais fazendas, sempre na mais completa harmonia, tendo construído uma das maiores fortunas do município. A primeira fazenda que compraram se chamava Boa Vista e a Fortaleza.

As duas famílias, muito unidas, moravam na mesma casa, separada apenas por uma porta. Reinava entre elas o maior respeito e a mais completa harmonia. Tudo que era comprado para um dos filhos era também dado a todos os outros.

A grande fortuna dos dois ilustres varões começou a despertar comentários quanto foram nascendo os filhos de ambos. Ouvia-se há todos instantes comentários dos advogados, juízes, tabeliões, etc. sobre a dificuldade que seria, no futuro, a divisão, entre os herdeiros, de tão importante patrimônio. Dizia-se que, com a confusão, a justiça ficaria com a maior parte. “Haverá barulho na certa, pancadaria e bom será se não sair tiro e até morte”, murmuravam as más línguas. Conscientes do problema, os dois sócios chamaram a justiça, sim, mas não para resolver divergências. Apenas para homologar a divisão dos bens que os dois fizeram, de comum acordo, sem precisar a intervenção de ninguém, continuando bons amigos até o final de suas existências.

Depois de algum tempo, ANTÔNIO VERBICARO fez a doação de todos os seus bens a seus descendentes, em uma reunião em que todos estavam presentes e concordaram com a divisão proposta.

No dia 28 de Março de 1952, MARIETA faleceu com um derrame cerebral. Seu marido, já esclerosado, foi poupado do sofrimento de ver se extinguir aquela santa senhora, com quem vivera tantos anos, na maior compreensão. Também ele faleceu 6 meses depois, em 18 de setembro de 1952, vítima do processo de esclerose que se havia iniciado dois anos antes.

Terminou, assim um casamento de tantas décadas. Mas as figuras de ambos os cônjuges, MARIETA e ANTÔNIO, se imortalizaram em seus descendentes, que hoje, como sempre, estão cultuando sua memória e enaltecendo suas raras virtudes, para que todos aqueles que têm a honra de ostentar o sobrenome VERBICÁRIO os tomem como imorredouro exemplo para suas próprias vidas.